Ainda Assim Falo: Solo exhibition by Juliana Sicoli

At a time when the world urgently needs to review structural behavioral patterns that relegate the “minorized majorities” to obscurantism through the imposition of force and power Ainda Assim Falo (Still So, I Speak), seeks to illuminate a little debated topic in order to contribute to the revision of certain values ​​that place Brazil as one of the countries in which femicide is one of the highest in the world.

 

Num momento em que o mundo necessita urgentemente rever padrões comportamentais estruturais que relegam ao obscurantismo as “maiorias minorizadas” pela imposição da força e poder, Ainda Assim Falo, busca iluminar um tema pouco debatido com o intuito de contribuir para a revisão de certos valores que colocam o Brasil com um dos países em que o feminicídio é um dos mais altos do mundo.

Filha de pais psicólogos, desde cedo Juliana Sícoli se interessa por indagações existenciais e, principalmente, por pesquisar as diversas formas de controle através de parâmetros psicológicos proferidos, frutos de uma construção sociocultural. Construção esta que invariavelmente surge a partir de deformações dos jogos hierárquicos da sociedade, particularmente a partir de sua estrutura patriarcal e machista.

 

Hoje é sabido que uma das maneiras de cercear os direitos femininos em determinadas épocas foi o de classificar as mulheres como mentalmente perturbadas, negando-lhes o direito ao livre arbítrio e obrigando-as a se submeterem aos desejos de seus pais e maridos. Caso não se encaixassem no modelo de vida imposto – muitas vezes sofrendo traições e violência doméstica – elas eram levadas para manicômios como forma de serem punidas e silenciadas.

 

Em uma de suas investigações – em hospitais psiquiátricos de Barbacena (MG), São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador – a artista se deparou com cartas que foram escritas e nunca entregues, entre os anos 1940 e 1980. Cartas que revelam de forma tocante a aflição, o horror, os maus tratos e a falta de humanidade tanto de seus familiares quanto daqueles que seriam responsáveis pelo seu “tratamento”.  

 

Essa face obscura do patriarcado, por tanto tempo escondida e ainda hoje velada, é o mote deste trabalho de Juliana Sícoli, que justapõe sua própria imagem a retratos apropriados de outras mulheres, como uma forma de se colocar no lugar destas e traze-las para o tempo atual, uma vez que as tentativas de apagamento do passado ainda hoje reverberam. A artista criou uma série de obras únicas com várias tonalidades de roxo, cor da luta feminista por direitos iguais usada pelas sufragistas inglesas desde 1908, e também tom dos hematomas. Em algumas destas obras, frases pinçadas das cartas encontradas foram costuradas no verso, para que ficassem ilegíveis na parte frontal da obra e apenas se revelassem no seu avesso, como metáfora do grito que era comumente silenciado – gritos de socorro que não eram atendidos. 

 

Num momento em que o mundo necessita urgentemente rever padrões comportamentais estruturais que relegam ao obscurantismo as “maiorias minorizadas” pela imposição da força e poder, Ainda Assim Falo, busca iluminar um tema pouco debatido com o intuito de contribuir para a revisão de certos valores que colocam o Brasil com um dos países em que o feminicídio é um dos mais altos do mundo.

 

Eder Chiodeto