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Desejar matar o desejo
Texto por Noele Karime, Professora (PUC-MG), curadora e pesquisadora em palavra e imagem na arte contemporâneaNa obra “Desvejo”, Juliana Sícoli arremata mais um ponto na urdidura poética que vem tecendo com seus trabalhos desde 2008. Em intervenções feitas com técnicas e itens de corte e costura sobre fotografias e outros objetos, a artista (a) borda sobre a tez do tecido social as feridas veladas e profundas cicatrizes deixadas pelas violências historicamente cometidas contra as mulheres, exibindo sobretudo seu avesso: o silenciamento.Um rosto feminino, desenhado por mais de 2.000 agulhas, nos encara com a expressão de uma aguda dor social que consentimos para evitar sentir: no Brasil, a cada 10 minutos uma mulher sofre violência sexual. Em 2021, foram registrados em média 1.000 casos por semana, número que representa somente uma parcela dos fatos, já que muitas mulheres, por medo, não denunciam ou retiram a queixa logo depois de prestá-la. 33% das pessoas perguntadas sobre o assunto, consideram a vítima culpada da agressão e até mesmo do feminicídio sofridos. (Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública).De acordo com as Nações Unidas, a motivação mais frequente do agressor é o desejo de posse sobre a mulher; seu corpo, sua sexualidade, sua autonomia. A pergunta “O que você mais deseja?”, nos faz encarar, assim, a face mais perversa de uma verdade que se prefere esconder: mata-se pelo simples desejo de “matar o desejo”. Invisível a olho nu e aparente apenas quando exposta à luz negra, a inscrição somente irrompe da branca mudez do papel se um interruptor for acionado pelo espectador, que pode escolher vê-la ou desvê-la.“Desvejo” toca, assim, em um ponto nevrálgico do complexo enredo dos casos de violências físicas e psicológicas contra as mulheres - estas últimas muito mais sutis, mas igualmente mortíferas. -
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Série "Ainda assim falo"
O trabalho “Ainda assim falo” integra uma importante discussão, através de uma pesquisa que a artista visual Juliana Sícoli fez no sistema manicomial do Brasil, entre os anos 1920 e 2000, com foco nas internas e suas tentativas de sobrevivência, as quais foram registradas em cartas na época, mas que nunca foram entregues.
Costurando trechos destas cartas no verso das fotografias, em que justapõe sua própria imagem a retratos apropriados de outras mulheres, como uma forma de se colocar no lugar destas e traze-las para o tempo atual, a artista busca iluminar essa face obscura do patriarcado que ainda hoje existe - e de maneiras cada vez mais veladas.
Num momento em que o mundo necessita urgentemente rever questões estruturais que relegam ao obscurantismo as “maiorias minorizadas” pela imposição da força e poder, a pesquisa busca trazer uma reflexão sobre os padrões de silenciamento que colocam o Brasil como um dos países com o mais alto índice de feminicídio do mundo.
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Exposições
2022 PROGRAMA DE EXPOSIÇÕES MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto
2022 MOSTRA DE PORTFOLIOS FOTO EM PAUTA – Tiradentes
2021 AINDA ASSIM FALO – individual – Galeria de Babel - São Paulo
2020 (R)EXISTÊNCIAS – individual – São Paulo|Belo Horizonte
2020 AUTOCOSTURA – coletiva – Casa 70 Gallery – Lisboa2019 GIGANTES SILENCIOSOS – individual - Estádio Mineirão – Belo Horizonte
2018 ESTADO DE POESIA – coletiva – Belo Horizonte
2018 MAGMALUZ – individual – GWS&GALLERY – São Paulo
2017 PASSAGENS – individual – Belo Horizonte
2016 SER E SENTIR-SE - Coletiva - Belo Horizonte
FEIRAS2022 SP – ARTE São Paulo
2021 SP – ARTE São Paulo
2020 SP – ARTE São Paulo
2020 SP – ARTE/FOTO São Paulo
2018 SP – ARTE São Paulo2018 SP – ARTE/FOTO São Paulo
2018 FEIRA ARTE BH São Paulo